Aperte o play, vai lendo e ouvindo:

Fuçando em alguns arquivos de áudio, encontrei um antigo projeto de 2001 mas que só em 2003 foi colocado em prática e publicado no Bocada Forte, no dia 24 de agosto do mesmo ano.

Esse projeto eu chamava de “programa de rádio on line”, mas nos tempos de hoje seria talvez um podcast. Ainda não acho que seja o nome mais correto. Mas, na época, não me lembro de alguém usar outro termo que não fosse rádio online.

Antes disso, acho que em 2000, chegamos a ter uma rádio no BF. Lembro de colocarmos pra rodar no site uma rádio comunitária do Jardim Monte Azul, zona sul de São Paulo, mas devido as dificuldades na estrutura e fiscalização a ideia durou pouco tempo. Uma pena, pois tinha uma proposta de levar grupos de Rap para se apresentarem ao vivo. Rolou só o primeiro teste com o grupo Consequência (Kamau, DJ Ajamu e Sagat).

Essa ideia era uma constante pra todos nós do site, pois para o Rap as rádios convencionais nunca foram o caminho para revelar novos talentos. Sendo assim, coloquei a ideia da rádio em prática novamente e por conta de todas as dificuldades batizei o programa de Resistência Sonora. O material que utilizei para tocar no programa vinha de artistas do Brasil todo. Eu pegava os CDs, levava pro estúdio, digitalizava e aí então a gente mixava com a locução. Esse primeiro programa foi gravado no estúdio Sala 23, com a produção e mixagem do DJ PG, ainda quando ele era da banda Nucleo, o Lumbriga (5º Andar) estava com a gente no estúdio.

A programação foi inteira de Rap brasileiro, mas só o que não tocava em grandes rádios. Vou colocar abaixo a lista das músicas e também o que sei sobre a situação atual de alguns dos artistas. Muitos desses acho que nem sabem que um dia divulguei suas músicas dessa forma.

Inumanos, formado por Aori e DJ Babão com a música “Brutal crew”, um dos melhores grupos do Rio de Janeiro. Atualmente ambos continuam em atividade, o Aori é o que está em mais evidência sempre envolvido em eventos de Rap, participa de um programa de rádio no Rio e continua fazendo música. O Babão sei que continua tocando, participa dos eventos da Brutal Crew, que não é apenas o nome da música, mas também a crew deles, responsável pela Batalha do Real.

Ascendência Mista, que era Venom, Munhoz, Zorack com a música “Pensamento aguçado”. O grupo infelizmente acabou, eles eram parte da Rhima Rhara e até hoje são considerados um dos símbolos do “Rap underground” do começo desse século. Todos ainda estão de alguma forma envolvidos com música e sempre presentes em eventos.

La Bella Máfia
, um dos melhores grupos de mulheres que o Brasil já teve, lá do Rio Grande do Sul com a música “Peleia”. A Lica continua na música, cantando outros estilos e fazendo muitos shows.

Hurakán, que já morou em diversas cidades, mas nessa época estava entre Santa Catarina e Curitiba, com a música “O que restou”. Também continua em atividade, não com a mesma evidência, mas está na ativa com estúdio e produzindo.

S.A.R (Soldados Armados de Raciocínio), grupo do Rio de Janeiro, formado por Torvi (hoje Gutierrez) e DJ Tamenpi, com a música “Minha vontade destruiu os Estados Unidos”. Os dois continuam na ativa também, Gutierrez está aí a todo vapor sempre lançando algo novo. O Tamenpi, que começou escrevendo sobre Rap no BF, segue firme com o blog Só Pedrada Musical e hoje viaja o mundo tocando. Foi eu também que entregou uma mix tape dele para o Guigo da Chocolate, que naquele momento estava procurando um DJ para ser residente nas suas festas, ele gostou da mix tape do Tamenpi e ai o resto é história.

Tito, também do Rio de Janeiro, ele era o MC de apoio do Gabriel o Pensador, com a música “Clone” que tem a participação de Buiu da 12 (N.A.T) e Mr. Catra. O Tito está trabalhando com filmes e documentários, ainda envolvido com a arte, vejo algumas postagens dele ainda fazendo beats, mas não tenho noticias de nada que tenha sido lançado.

O Quadro, grupo de Ilhéus Bahia, Rap com banda, música “Valor de X²”. Continuam na ativa, lançando novos trabalhos e fazendo shows, fiquei muito feliz em saber que conseguiram quebrar barreiras e romper as fronteiras regionais.

S.T.A (Somos Todos Aliados), grupo de São Paulo, os precursores do Hip-Hop na internet, com a música “Eu não”. Acho que de todos é um que não tem mais um envolvimento ativo na música, pelo menos não tenho notícias. Inútil, que é o que tenho mais contato, tem um bar na zona oeste de SP.

Z’África Brasil, de São Paulo, com a música que saiu no primeiro disco deles, que foi gravado na Itália, a música se chama “Milênio” e tem a participação dos italianos. Esse dispensa comentários, até hoje na ativa, sempre fazendo shows e lançando novos projetos.

Sub-agentes, também de São Paulo, grupo do Calmão e do Bruno, com a música “Desse jeito mesmo”. O Bruno (Ktatall) não faz mais Rap, mas tá sempre acompanhando tudo e o Calmão é beatmaker e um dos idealizadores do Mental Abstrato, banda que ele integra, lançaram disco novo em 2018 e há pouco tempo estiveram em Cuba.

Ouvir esse programa é uma viagem no tempo. Destaco a diversidade da programação, com artistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Isso até hoje é uma característica do Bocada, valorizar artistas independente seja lá de onde eles sejam. Se o trabalho que fazem é relevante e autêntico, o espaço aqui está garantido.

Olhando para trás também é importante ressaltar que fiz apostas. Eu acreditava nesses artistas, curtia eles e achava que eles mereciam mais espaço. Espaço esse que era negado por rádios e grandes veículos onde todos sabemos que existem negociações que não levam em consideração a qualidade e sim o cifrão que você tem para oferecer e comprar seu espaço.

Não posso esquecer de falar que o DJ PG também continua na ativa. Ele é DJ do grupo Elo da Corrente, sempre lança uma mixtape nova e também toca em várias festas e projetos. Os outros programas foram feitos por Kisley Matuz (Negundes), que hoje não está ativamente ligado a música, e pelo Le Dread (Kafofu Records), este ainda na ativa, gravando, produzindo, criando, etc.

Fizemos história. Acho até que fomos referência para alguns, mesmo sem saber. Em breve vou disponibilizar todas as edições e quem sabe não volto a fazer agora com o nome certo: podcast.

Se não deu o play lá em cima, dá uma moral pra gente agora:

Esse texto foi adaptado de uma matéria publicada na Revista Elementos em 15/08/2009

Essa matéria contou com patrocínio da Loja Central Girls

4 COMENTÁRIOS

  1. Conheci vários grupos de Rap da hora, ouvindo o Resistência Sonora. Gratidão Bocada Forte.

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