A questão do graffiti e da pichação tem entrado em pauta recentemente principalmente pelo que vem ocorrendo em São Paulo a partir da posse no novo prefeito da cidade João Doria. O novo prefeito elegeu-se no jogo democrático-burguês com certa vantagem com relação aos demais candidatos não pela sua suposta competência em administrar e resolver os problemas da cidade, mas pelo lugar que ocupa na sociedade, por ser um capitalista milionário e ter forte ligação com figuras importantes politicamente como Geraldo Alckmin o que alavancou a sua campanha devido ao apoio do atual governador.
A eleição de Doria também resultou da conjuntura que vem se formando na política do país onde se criou grande ódio aos políticos sobretudo de correntes da esquerda parlamentar – neste caso específico notadamente o PT criando forte sentimento anti-petista sendo Doria também entusiasta desse sentimento – tendo Doria supostamente um caráter diferenciado por ser um gestor capitalista e não um político profissional. Temos que ressaltar aqui que esse repúdio pela corrupção e a políticos vem sendo construído de forma paulatina, sistemática e maniqueísta pelos direitistas e movimentos como o MBL (Movimento Brasil Livre) financiado por grandes empresários com objetivo principal de alimentar o mal estar social sem qualquer alternativa factível ao atual estado de coisas. O fato é que gestores do capital e políticos profissionais atuam em conformidade com os ordenamentos de mercado garantido e normatizado pelo Estado burguês questão que não debaterei aqui devido aos limites do texto.
Desde as manifestações de 2013 é grande a ascensão da direita, mais especificamente da extrema direita com claros contornos fascistas. O fascismo, devemos ressaltar aqui, resulta quando da organização de frações dominantes da burguesia nacional em reorganizar a economia e todas as esferas de poder da sociedade construindo para isso um inimigo central ao qual deposita todo o seu ódio. No caso do nazismo foram os judeus. No caso do fascismo brasileiro hodierno trata-se do PT e a esquerda de uma forma geral. Nesse ponto a eleição de Doria apenas resume o quadro político atual do país.
Proibir o graffiti e criminalizar a pichação é na verdade mais um aspecto da política repressiva e de controle social numa clara tentativa em tornar São Paulo uma cidade silenciosa denunciando o temor dos governantes com relação à juventude que se manifesta. Ao tornar a cidade cinza, proibida de se manifestar e expressar suas demandas estanca-se a comunicação com a população restando apenas às grandes corporações midiáticas o controle sobre as informações.
“A pichação foi amplamente utilizada como um dos poucos recursos possíveis no momento em que havia restrições à liberdade de expressão no Brasil. Muitos jovens, principalmente do movimento estudantil, registravam sua insatisfação e suas ideias nos muros das cidades, produzindo frases de impacto, aversão, desprezo e indignação contra o regime militar. A pichação foi o melhor recurso disponível naquele momento, pois eram rapidamente feitas, e, por isso, difíceis de serem reprimidas ou denunciadas.”
E continua:
“Bosco (2010) compara a pichação com a violência. Segundo este autor, a pichação representa as pulsões dos socialmente excluídos e sua manifestação geralmente desrespeita o pacto social. Os pichadores atuam em qualquer lugar que ofereça alguma visibilidade à sua marca, independentemente do valor histórico ou social atribuído ao local. As tags, porém, não são decodificadas pela sociedade, somente por um pequeno grupo de pichadores, o que torna a pichação algo que não pode ser incorporado socialmente.”
Percebe-se, portanto, que a proibição trata-se na verdade de um aspecto do projeto de sociedade defendida pelos conservadores. Demonstra uma preocupação do Estado e consequentemente das frações de governo (neste caso principalmente de gestões da direita brasileira) em não tolerar as divergências e antagonismos que a cidade expressa. Tudo isso se configura como um atentado contra a liberdade de expressão. “A grande São Paulo congrega 10% de toda população nacional. É um barril de pólvora. Um caldeirão fervendo e logicamente que toda a censura, toda essa repressão ela tem um objetivo muito claro. É impedir o barril de pólvora de explodir. É impedir o caldeirão fervendo de entornar. As penas de prisão para pichadores não tem nada a ver com a limpeza da cidade. Tem a ver com a tentativa de estrangular totalmente qualquer liberdade de expressão.” (Rui Costa Pimenta)
graduado em História pela
Universidade Federal Fluminense,
mestrando em Educação pela
Universidade Estadual do
Rio de Janeiro.