Chuck D, rapper, escritor, produtor e ativista, é uma lenda viva do Hip-Hop. É fundador do Public Enemy, grupo que, no início da cultura de rua aqui em São Paulo, influenciou grande parte dos jovens artistas que escolheram fazer um Rap político e de denúncia contra o racismo e a desigualdade social.
No livro Hip Hop Brasil, editado por Nina Fideles para a extinta revista de esquerda Caros Amigos, Mano Brown registra o impacto das produções do grupo de Chuck D.
“Foi o mesmo que ver o surgimento do Pelé para o moleque que jogava futebol. E tudo aquilo que o Miltão falava, os caras do movimento falavam, e eu não sabia fazer, os caras do Public Enemy já faziam bem demais. Foi o nocaute. Isso tudo antes de existir os Racionais, foram dois anos muito longos. Nesta fase tive muita chance de morrer, de não ter me tornado nada. Eu cantava, mas nada com compromisso. Ganhei concursos, tinha talento para ritmo, era sambista, sou ritmista, e era tudo muito natural, eu só não tinha boas ideias, não era um letrista, era um ‘cabeça de bagre’.”
Em entrevistas em rádios de São Paulo, os grupos da coletânea Hip Hop Cultura de Rua sempre citavam a importância estética e discursiva do Public Enemy. Nas ruas da cidade, o logotipo do grupo estava presente em camisetas, adesivos e discos piratas de vinil.
Apesar de ser valorizado entre os artistas do Hip Hop e do Rap, tirando algumas exceções, as músicas do Public Enemy não eram unanimidade para os frequentadores dos bailes black, que preferiam Raps menos agressivos e mais dançantes. Mas as letras e as produções densas e repletas de samples que davam suporte ao flow conjunto de Chuck D e Flavor Flav, marcaram uma geração que teve como destaque Racionais, FNR e DMN, Comando DMC, Câmbio Negro, entre outros.
Gil, editor do Bocada Forte, também tem uma história para contar sobre Chuck D.
“Tive o prazer de conhecer o Chuck D. Sua humildade como ser humano só o deixa maior do que ele já é como artista. Só tínhamos contato por e-mail, até que em 2003 fui responsável por mediar a segunda apresentação do P.E. em São Paulo, no dia 07 de novembro de 2003, e também ajudar a produção que os trouxe novamente em 23 de julho de 2011. Em outro momento vamos relembrar essas datas. Temos muitas fotos e matérias em nosso acervo”.
Entre outras lembranças, Gil, que já escreveu diversas vezes sobre o artista, reafirma a importância da reunião entre Chuck D, Enézimo, LF e DJ Nato PK na faixa “Justiça”.
Nascido Carlton Douglas Ridenhour, em Queens, Nova York, em 1960, Chuck D se tornou uma figura proeminente na cena do Rap como líder do grupo Public Enemy. Conhecido por trazer a consciência política ao Hip-Hop, seus álbuns ‘It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back’ (1988) e ‘Fear of a Black Planet’ (1990) são considerados alguns dos mais importantes da história do Hip-Hop. Além disso, Chuck D é um artista colaborativo , atualmente membro do grupo Prophets of Rage, ao lado de B-Real do Cypress Hill e ex-integrantes do Rage Against the Machine.
Uma de suas notáveis contribuições para a Cultura do Hip-Hop foi em 1999, quando fundou o rapstation.com, uma rede de estações de rádio pela internet. O destaque da programação foi “This Day in Rap and Hip-Hop History”, compilada por Duke Eatmon e Ron Maskell, que se tornou posteriormente um livro intitulado ‘Chuck D Presents This Day in Rap and Hip-Hop History’.
Em entrevista ao The Guardian, ao discutir sobre a criação do livro, Chuck D ressaltou a importância de fornecer informações precisas sobre a história do Hip-Hop, evitando mitos urbanos e opiniões mal informadas – algo que sabemos que acontece muito aqui no Brasil.
Ainda durante a entrevista, Chuck D também compartilhou suas memórias de eventos marcantes no Hip-Hop, como o início do movimento em 11 de agosto de 1973, quando DJ Kool Herc sediou uma festa no Bronx que se tornou o epicentro do Hip-Hop como uma forma de arte. O rapper relembrou a importância histórica de faixas como “The Message”, de Grandmaster Flash and the Furious Five, e “Fight the Power”, do Public Enemy, como vozes do movimento sociopolítico dentro do Hip-Hop.
Reconhecendo seu papel como liderança na cultura de rua, Chuck D enfatiza a necessidade de artistas se envolverem em todas as dimensões da música – visual, sonora, estilo e narrativa – para manter a essência da arte do Hip-Hop. O rapper enfatiza que nunca se viu como um indivíduo, mas sim como parte de um coletivo. Para o líder do Public Enemy, o Hip Hop é mais sobre a humanidade coletiva do que uma localidade específica nos Estados Unidos.
Das conexões e parcerias no início da carreira com Hank Shocklee, da Bomb Squad, até unir forças com Tom Morello e outros para formar o Prophets of Rage, passando pela sua influência na arte dos MCs brasileiros, Chuck D tem uma inegável contribuição para o Hip Hop e para a luta antirracista mundial.
Foto: Reprodução do YouTube
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