Marco Polo, beats do Canadá ao Brooklyn

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Foto por Florian Roeske.

MARCO POLOé, sem dúvida nenhuma, uma revelação da nova cena de produtores de música rap mundial. Nascido em Toronto, no Canadá, e atualmente morando em Nova York, Marco tem chamado a atenção da mídia especializada, mas, principalmente, vem sendo requisitado por artistas de ponta do hip hop, por sua criatividade e talento na criação de batidas.

Antes de se estabelecer na big apple Marco Polo, que tem formação em engenharia de som, já havia enviado seu currículo pra muitos estúdios de gravação, sem obter nenhum sucesso. Após a mudança – morando primeiro no bairro do Queens e depois fixando-se no Brooklyn – com a ajuda de um amigo, conseguiu um emprego temporário num estúdio da cidade, servindo café, fazendo limpeza, recepção e atendendo ao telefone. Era a oportunidade que ele precisava para, aos poucos, ir mostrando seu potencial.

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Marco Polo e Masta Ace.

Em pouco tempo, Marco passa de “faz tudo” do estúdio a auxiliar na mesa de som. Com mais espaço de atuação, o jovem forasteiro canadense começa a trabalhar em suas batidas, que logo começam a chamar a atenção pela qualidade e inovação. Os artistas que freqüentavam o estúdio sempre acabavam trocando idéia com Marco. Foi numa dessas conversas que ele pôde entregar a Masta Ace um CD contendo algumas de suas primeiras produções. A partir daí, muitos rappers começaram a entrar em contato com o estúdio onde trabalhava para conversar com Marco e trabalhos começaram a surgir. Atualmente, Marco Polo tem seu nome em alta e possui muitos clientes ao redor do mundo. Após emplacar o sucesso “Do it man”, no disco “A Long Hot Summer”, de Masta Ace, Marco Polo desenvolveu trabalhos com artistas de peso, como Brooklyn Academy, The Beatnuts, Jean Grae e Buckshot.

Maio passado [2007], marcou o mês de lançamento de seu primeiro Álbum, entitulado “Porth Authority”, pelo selo Rawkus. O disco vem com participações de Sadat X, Large Professor, Kool G Rap, Kev Brown, Oddisee, O.C, dentre outros. Os destaques vão para as faixas “Nostalgia”, com Masta Ace, “War“, com Kardinal Offishall e “The radar“, com Large Professor. O álbum ganhou excelente avaliação (“XL”) na revista americana XXL Magazine e vem recebendo ótimas críticas.

Esse álbum representa os últimos três anos de trabalho da minha vida. Minha grande mudança para Nova York, quatro anos atrás, e todo o amadurecimento musical que tive desde o início até a finalização dele. Ele representa uma resposta ao hip hop que vem inegavelmente e lentamente se perdendo, se embranquecendo. Esse Álbum também representa meus esforços de unir grandes artistas do hip hop e dar-lhes mais força. Meu projeto não é uma compilação, é o meu Soul Survivor, como Pete Rock. Porth Authority vai atestar isso! Pras pessoas que amavam a Rawkus nas antigas, esse Álbum irá lembra-las de como eram as coisas na era clássica da Rawkus Records”, revela Marco Polo.

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Foto por Sen Floyd.

Sempre na correria e muito ocupado com alguns projetos que vem desenvolvendo, Marco Polo reservou um tempo pra bater um papo com o Bocada Forte, falando um pouco de sua trajetória, da forma de atuação como produtor e do disco. Confira a entrevista abaixo.

Bocada Forte (BF): Marco Polo, conte-nos um pouco sobre o começo de sua história com o hip hop. Fale-nos de quando você morava em Toronto, no Canadá, de seus primeiros contatos com a música rap e a cultura hip hop.
Marco Polo: Nasci e vivi na região de Toronto. Cresci escutando Maestro Fresh Wes, Dream Warriors, Rascalz, Kardinal Offishall, Franskestein – todos grupos de hip hop locais do Canadá. Eu sou da costa leste, então venho de um estilo mais boom bap e g-funk. Sendo assim, gosto muito do estilo da costa oeste também.

BF: Sabemos que você está fora do Canadá já há alguns anos, porém aqui no Brasil muito pouco se sabe sobre a cultura hip hop de lá. O que é mais forte por lá, a arte do graffiti, a música rap, a dança de rua? Quais os principais artistas do hip hop de seu país de origem?
Marco Polo: A música rap é forte no Canadá. Nossos maiores artistas incluem Kardinal Offishall, K-Os, Saukrates, dentre outros. Como produtores temos Moss, Mr. Attic, eu mesmo, para listar alguns. Nós também temos excelentes dançarinos de rua em nossa cena.

BF: Porque deixar Toronto e mudar-se para Nova York? O que você esperava encontrar e o que encontrou? Conte-nos um pouco sobre sua adaptação.
Marco Polo: Eu deixei Toronto e me mudei porque em Nova York porque aqui há muito mais oportunidades de crescimento para um produtor como eu. Existem bem mais contatos e rappers em Nova York. Toronto é uma cidade da hora, mas a cena é muito pequena se comparada à Nova York. Nova York é a “mecca” do hip hop.

BF: Quais os melhores representantes e a coisa mais importante pra você no hip hop?
Marco Polo: Pra mim DJ Premier, D.I.T.C., EPMD, Pete Rock, J-Dilla, The Lox, Wu Tang, Boot Camp são os que representam. O “diggin” (exploração) de discos antigos faz parte da minha vida também. É um trabalho extremamente importante pra mim.

BF: Quais foram suas principais influências no hip hop? O que foi decisivo em sua vida para que você decidisse levar sua vida através da música?
Marco Polo: Depois de escutar “Bonita applebum”, do grupo A Tribe Called Quest e a compilação de rap chamada Rap Traxx 2 – que tinha o som do grupo De La Soul, “Say no go”, LL Cool J, “I´m that type of guy” e Slick Rick, com “Chiledrens story” – foi que descobri o mundo da música. Mas foi DJ Premier que me fez querer comprar um MPC e sair fazendo batidas por aí.

BF: Com que artistas você teve as suas primeiras oportunidades de trabalho dentro da música rap? É difícil ser reconhecido nesse jogo?
Marco Polo: Foi Masta Ace que deu meu primeiro grande empurrão, me dando a oportunidade de fazer parte de um álbum que muita gente escutou. Eu produzi a música “Do it man”, com participação de Big Noyd, no álbum “A Long Hot Summer”. Depois de Ace eu trabalhei com Block McCloud e Pumpkinhead, que são da cena alternativa de Nova York.

IMG4BF: Quais equipamentos você utilizava quando começou a trabalhar como produtor e quais você utiliza hoje.
Marco Polo: Eu uso uma MPC 2000 XL, da Akai. É a primeira e única máquina que eu uso pras batidas. Então, uso minha MPC, minha coleção de discos, um toca-discos, um mixer e é isso!

BF: Você tem algo contra se produzir beats através do computador? Alguns produtores e artistas dizem que isso vem diminuindo o processo criativo e deixando a música cada vez mais “artificial”.
Marco Polo: Eu realmente não me importo com o que os produtores usam pra fazer suas batidas. Contanto que a música seja boa, é tudo o que importa.

BF: Como você vê essa nova estética cada vez mais dançante de batidas de rap, feitas por produtores como Scott Storch, DJ Khaled e Lil’ Jon?
Marco Polo: Esse tipo de música tem o seu lugar, mas, pessoalmente, ela não me diz ou traz nada e não me inspira nos momentos em que faço música.

BF: Você acha possível um produtor causar impacto na cena hip hop de hoje em dia fazendo instrumentais no estilo que se fazia antigamente? Com linhas de grave, timbres mais pesados ou atualmente um produtor tem que se adequar ao que é consumido para obter reconhecimento?
Marco Polo: Eu não dou a mínima para o que pode ou não ser popular no “mainstream”. Eu me utilizo de samples de discos sujos o tempo todo! Como eu disse antes, boa música é boa música. Limpa ou suja!

BF: Antes de você iniciar o processo de criação de um beat ou instrumental, de que tipo de informações você procura acercar-se para que seu trabalho seja fiel ao que busca o artista? Como é feita essa “sintonia”?
Marco Polo: Eu começo toda a batida com a bateria primeiro. Eu realmente não faço batidas pra alguém com especificidade. Eu apenas faço de acordo com o que sinto e tento descobrir como a música pode soar o melhor possível após completa.

BF: Sabemos que cada profissional tem seu estilo próprio de trabalhar. Como funciona a criação? Como você costuma iniciar a criação de um beat e, de forma simplificada, quais seriam as principais etapas até sua finalização?
Marco Polo: Acordo todos os dias as nove horas da manhã. Cato um café e saio procurando alguns sons de bateria!

BF: Como você avalia o valor de uma produção? O valor se diferencia de artista pra artista? E como são recolhidos os direitos autorais por execução da obra em shows, rádios, TV? É complicado se ter controle sobre isso atualmente?
Marco Polo: Meus preços não são ajustados de forma rígida e variam de projeto pra projeto. Eu permaneço no topo realizando produções e promovendo meu trabalho. Sou muito organizado. Quanto aos direitos autorais, eu tenho um competente advogado e um excelente empresário que me auxiliam nisso tudo.

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BF: Você lançou o seu primeiro Álbum, “Port Autorithy” – com participações de artistas como Large Professor, Masta Ace, Sadat X, Buckshot, Ed O.G, Kardinal Offishall e outros. Como foi reunir tantas feras originais da música rap e como vem sendo a repercussão de seu trabalho aí nos Estados Unidos?
Marco Polo: Foi uma benção trabalhar com todos os artistas no meu álbum. Estou muito orgulhoso com o que eles agregaram no “Port Authority”. Eu não posso deixar de mandar um salve pra Shylow e DJ Linx, que me ajudaram muito a produzir esse trabalho.

BF: Que artistas você ainda não trabalhou e que gostaria de produzir? Fale sobre seus planos para o futuro.
Marco Polo: Eu gostaria de trabalhar com artistas como Ghostface, Nas, The Lox e Amy Winehouse. Eu estou trabalhando atualmente num Álbum de um MC chamando Torae (um MC muito louco de Nova York). Nós estamos trabalhando também num grupo chamado Double Barrel. Então, fiquem ligados.

BF: Como as pessoas podem achar, escutar seu trabalho e contactar você?
Marco Polo: Vocês podem me contactar e escutar alguns sons na minha página no MyShopify e na minha página pessoal. Muito obrigado pela entrevista e pelo espaço. Muita paz ao Brasil e espero poder estar tocando algumas batidas por aí algum dia!

Ouça o álbum “The Exxecution”, com Marco Polo e Ruste Juxx, lançado em 2010:

Ouça o álbum “Porth Authority 2: The Directors Cut”, lançado em 2013:

Confira “A-F-R-O POLO”, último trampo de Marco Polo, com o MC A.F.R.O:

*Matéria publicada originalmente no dia 21 de agosto de 2007.

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