Opinião: Hip Hop para além do empoderamento | Por Geysson Santos

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Quem lucra com o empoderamento e a representatividade?!

Não é consenso a discussão referente ao que representa o Hip Hop nos movimentos sociais: há aqueles que defendem uma cultura que compõe o movimento negro; há aqueles que acham que o Hip Hop é a prática dos quatro elementos, sem compromisso social. Sendo assim, não quero trazer afirmações, apenas iniciar uma reflexão dos limites de alguns discursos dentro da periferia.

Nos últimos anos a discussão do empoderamento vem ganhando força nas redes sociais, colaborando inclusive, para afirmação de muitos(as) jovens enquanto negro(a). Partindo desse ponto de vista, é algo positivo. O que me preocupa, são os limites que esse debate toma ao dialogar com a juventude da periferia.

Fazer um debate racial no Brasil é se atentar para além da questão racial, é perceber a questão de classe que o envolve.  O racismo foi um braço da exploração de classe na construção do Brasil, é justamente esse o limite do empoderamento na periferia.

No texto, ‘Quem teme o Rap Nacional?’, me atentei a refletir os posicionamentos do rap numa breve linha de tempo. Indico uma (re)leitura, para não ser repetitivo.

A representatividade que o Hip Hop tem dentro da periferia é de um caráter singular. Muitas vezes, as discussões que se dão com mais força entre a juventude negra e pobre, são comentadas e debatidos dentro do HH.

Não é novidade a influência que o mercado vem exercendo na nossa cultura. Não é mais tão frequente ver a militância no HH, os ativistas estão sendo vendidos como artistas. O compromisso social e militante foi trocado pelos views e pela imagem que o artista quer vender.

A expansão do Hip Hop aproximou outras classes sociais, não que isso seja negativo, mas é importante perceber que é a mesma classe responsável por marginalizar nossa cultura há alguns anos atrás. Essa proximidade deve ser pensada com cuidado: a aproximação de outros setores  podem influenciar nas produções Hip hopianas?

Eu diria que sim, a partir dessa aproximação, o Hip Hop passou a priorizar outros ambientes além da rua, os discursos passaram a ser menos militantes e com mais entretenimento. As produções passaram a ser menos engajadas socialmente e mais comercializáveis.

A idEia da afirmação racial que está sendo comercializada é meramente estética e sem o “ódio a burguesia”, como cantou o Clã Nordestino. O empoderamento que está sendo propagado pelo Hip Hop, Paulo Freire chamou atenção na Pedagogia do Oprimido: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

O Hip Hop deve nadar na contramão do que sempre nos impuseram, o oprimido não deve se encantar com os cordões de ouro e com o clipes gringos para se tornarem os novos opressores, devemos construir uma sociedade sem opressão.  O mercado não está disposto em garantir nossa sobrevivência, a tática deles, é enriquecer alguns (poucos) para sustentar a ideia da meritocracia e iludir nosso povo, com a ideia que é só correr atrás. E como diz a guerreira Preta Lu: “O empoderamento por si só também não resolve, porque só vai trocar de mão o chicote”.

O mercado para nós é pouco, o Hip Hop não pode ser utilizado como um mero produto, o Hip Hop é um instrumento para garantir os meios de produção!

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