Mulheres ganham destaque em clipe de rap feito no Ceará

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Felipe Rima criou projeto “Poder dos Sonhos” e trouxe presença feminina

Por Jéssica Balbino

Mostrando, na prática, o “Poder dos Sonhos”, o rapper cearense FELIPE RIMA lança um novo videoclipe, parte dos trabalhos da produtora Batuque do Coração e dá sequência à poética dos seus trabalhos. Desta vez, a novidade é a participação feminina nas rimas e nas gravações. O desejo, segundo ele, surgiu da necessidade de ver as mulheres do rap do Ceará inseridas na cultura hip hop.

Pensei em reunir o máximo de mulheres em uma música inédita, com um videoclipe. A ideia era transformá-las em maioria. A minoria seria eu, o único rapper, já que é comum a gente ver os homens do hip-hop se reunirem e fazerem ações, músicas e projetos juntos. Eu quis interferir nessa lógica aqui no estado e convidei várias moças pra uma conversa e quis ouvir elas, saber como a gente poderia se reunir nessa ideia e fechamos com elas Gabriella Savir, Carolina Rebouças, Izabel Shamylla e Paula Ray. Tô muito feliz com o resultado”, detalhou.

A canção tem gravação, mixagem e máster assinado pelo QG Batuque do Coração, estrutura de produção cultural coordenada pelo rapper em Fortaleza (CE). Tudo foi gravado de forma independente, com a captação das imagens de Bulan Graffiti e Mariano Penha, Salmos Rafael na direção musical e o próprio rapper na direção artística, edição e finalização do trabalho. Também participaram FL2 e Felipe Dantas nos beats.

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Com este time, o trabalho vem também para quebrar os conceitos e tradições machistas, enraizados na cultura nordestina. Por isso, Felipe Rima acredita que o trabalho traz uma mensagem que contribui com a conscientização. “Eu fui educado a ser insensível e não ver o outro lado e se o outro lado fosse mulher aí eu teria que ser mais durão ainda. Cresci numa família dentro do crime e no nordeste onde é cheio de ‘cabra macho’ os homens machões. Com o passar do tempo, aliado a minha aproximação das artes, passei a ser mais atento a essas questões e me permitir a ver o todo. Além de ser poeta que se inspira no romance, na essência feminina, hoje eu vejo que o mundo está cheio de atitudes machistas inadmissíveis. Sabemos que isso é um processo histórico de séculos e eu hoje busco pelo menos entender minha função na vida das mulheres e me posicionar quando vejo atitudes que me incomodam nos homens”, contou.

Entretanto, o rapper rejeita o rótulo de ‘exemplo’ e reforça o processo pessoal no contexto. “Eu estou mais vigilante e uma das ações que julgo importante como posicionamento meu, é convidar mulheres pra um som como esse”, completou.

Prova disso é que Felipe Rima quis, na prática, dar voz às mulheres. “Eu costumo dizer que elas não foram escolhidas, a gente se escolheu e criamos uma sintonia que transbordou o processo de uma música”, disse.

O poder da voz feminina para realizar sonhos
A comerciante Gabriela Savir, conhecida como Gab Savir, tem 26 anos e acredita em um protagonismo latente a partir do videoclipe. “A militância feminista tem muitas facetas e grande interferência na minha vida pessoal e artística. Há muito o que trabalhar para que a imagem da mulher seja valorizada. A música e o clipe foram o começo de uma grande mudança, eu acredito nisso. Participar de uma construção coletiva, para falar do Poder Dos Sonhos, vivenciar, dividir, deixar meus sonhos criarem voz, além de valorizar a imagem feminina, é algo que vou levar comigo pro resto da vida”.

Para ela, ser mulher, feminista e cantar rap no Ceará é motivo de orgulho e honra, justamente por conhecer as dificuldades diárias que as mulheres enfrentam enquanto protagonistas das próprias vidas.

A luta é maior do que se pode imagina. O que precisamos é de uma construção diária de combate ao machismo. Me sinto fazendo minha parte, falando do Poder dos Sonhos, do amor pela arte, pela poesia e valorizando a figura da mulher. Que possamos elevar o que fizemos juntos, movidos somente pelo Poder Dos Sonhos, para escalas maiores, pois o Poder que os sonhos têm são imensuráveis. É preciso confiar, apenas”, relatou.

Quem também comenta a experiência é a educadora social Carolina Rebouças da Silva, de 20 anos. Estudante de publicidade e propaganda e cantora, ela definiu como mágica a gravação ao lado do rapper e a quebra de estigma com o clipe.

Foi maravilhoso, a sinergia que rola sempre que estamos no QG nos estimula a estar criando constantemente, é magico a energia daquele lugar e é contagiante, pois quem os forma é gente da gente e gente que faz acontecer que nem a gente, foi uma honra fazer parte desse projeto. A ideia, desde o início era falar sobre sonhos, me veio a tona imediatamente ‘I Have Dream’ do Martin Lutherking e a letra da música começou a fluir a partir daquele instante imediatamente”, contou.

Ainda de acordo com ela, a proposta é mostrar justamente o imprevisível. “Somos mulheres de luta e independentemente de gênero, cor, que há uma verdade, um sentimento a ser dito, ele será dito e eu não me resguardo quando o assunto é mostrar o que é nosso, divinamente do gueto, se prestar atenção no clipe aparecem cenas constantes da senhora fazendo artesanato, a criança brincando na rua, o senhor tratando o peixe que é o sustento da sua família, isso é o que somos, só queríamos mostrar isso ao mundo e acredito que tivemos bastante êxito”, finalizou.

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