Em videoclipe, Inquérito mostra nossa luta ancestral

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Alguns trabalhos do nosso rap brasileiro não podem passar batido ou apenas ter uma notinha publicada nos blogs. É o caso do videoclipe “Eu só peço a Deus”, do Inquérito. Renan, rapper ligado ao mundo da literatura, faz a ponte entre o asfalto de hoje e as trilhas de terra de um passado escravista.

Gosto de repetir que nenhuma luta negra é fenômeno isolado. Tudo está ligado, tudo é ancestralidade. O canto dos escravizados, suas estratégias de sobrevivência que marcaram a história que muitos querem esconder, o rap urbano que não abandonou o protesto, mas que também não esqueceu da fé, do amor e da beleza de um povo que sofre, luta, sorri.

Das Minas Gerais de 1850, época em que a Lei de Terras colocou uma pá de cal definitiva no acesso à propriedade para os negros forros ou cativos, o grupo Inquérito traça seu drama audiovisual.

O capitão do mato é a polícia de hoje. Frase clichê? Vamos ao significado do termo clichê: uma expressão idiomática que de tão utilizada, se torna previsível. No sentido figurado, é uma ideia já muito batida, uma fórmula muito repetida.

Voltemos nosso olhar para a atuação policial e a aceitação da violência da PM por grande parcela da nossa sociedade. O tratamento dado ao negro, de tão utilizado, se torna previsível, é uma fórmula muito repetida, mas o sentido não é figurado, a dor é real.

O racismo no Brasil não é algo que está no âmbito privado. Durante muito tempo, foi apoiado pelo Estado, com normas, regras e leis que:

– desumanizaram os negros

– limitaram o acesso à cidadania

– restringiram o acesso ao sistema político-eleitoral

– discriminaram as manifestações religiosas dos pretos

– cercearam o direito ir e vir

– restringiram o acesso à saúde

– bloquearam o acesso à educação

– dificultaram o acesso ao mercado de trabalho, mas criminalizaram a vadiagem (conveniente, não?)

– com tratamento processual penal desigual, criaram penas específicas para escravizados e pra quem ajudasse os escravizados

Vou parar por aí.  Renan, nosso irmão, questiona no clipe: “Quer saber o que me move? Quer saber o que me prende?”

Você, cidadão que é protegido pela branquitude, esse campo de força que cerca um lugar de privilégio, pode ter algumas respostas ao assistir ao vídeo “Eu só peço a Deus”. A nossa luta é no cotidiano, é ancestral. Ainda bem que parte do rap não esqueceu essa parada. Valeu Inquérito.

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