O Lado B do Hip Hop | Entrevista com SP Funk

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Os rappers Bomba e Tio Fresh, do grupo SP Funk, que lançou recentemente o primeiro álbum solo pelo selo Brava Gente, falou conosco em entrevista exclusiva sobre a trajetória do grupo, VMB, televisão e o disco ‘O Lado B do Hip Hop’, confiram.

Capa do disco

Bocada-Forte: Quando começou o grupo e qual era a formação original?

Bomba:
O grupo começou em 1992 e a formação era diferente, primeiro cantava eu e o Primo Preto aí depois entrou o DJ Negralha.

Depois mais ou menos em 1994, 1995 entrou o Maionezi e o Fresh, aí como não dava pro Primo conciliar com o grupo os trampos empresariais que ele tava fazendo, aí ele saiu.

Fresh: E o DJ Negralha saiu e o DJ QAP entrou.

B.F: E porque O Lado B do Hip-Hop?

Bomba:
É uma coisa diferente e é o lado positivo, o lado do bem, é um pouco menos tiro, um pouco menos sangue. A gente fala dos problemas também mas a gente também aborda vários outros temas que não são abordados no Rap.

B.F: E os outros elementos da cultura também tem o lado B?

Bomba:
Na verdade é o lado B do hip-hop e não o lado B do Rap, a gente tá envolvido com o pessoal do break e do grafite também.

Fresh: Uma das intenções nossas também é resgatar o hip-hop nas letras que hoje dificilmente você ouve rimas falando do hip-hop.

B.F: Por que SP Funk?

Bomba:
A gente resolveu prestar uma homenagem ao funk verdadeiro que é um movimento de libertação da mente, porque o Rap é filho do funk e o SP por causa da cidade.

Capa do vinil com algumas faixas do disco

B.F: E prá vocês o que representa lançar um disco pelo selo de Thaíde e DJ Hum?

Fresh:
Fazer parte da história do Thaíde é da hora, a gente é a primeira banda do selo dele e ele é o pioneiro do hip-hop. E é da hora, eu já conhecia os caras de outros trampos e a nossa junção se deu porque a gente gravou um cd demo com a música Fúria de Titãs e saiu entregando prá vários caras do meio aí o DJ Hum se interessou e fez o convite prá gente participar da coletânea Rima Forte.

B.F: E quem produziu o disco?

Fresh:
O disco inteiro (tirando Fúria de Titãs que foi o DJ Hum) foi o Bomba que produziu.

B.F: Quais foram as participações e qual o critério prá escolha dos convidados?

SP Funk:
Tem o RZO e o Sabotage na música Enxame, na música Fora de foco participam um grupo novo que a gente tá lançando o S.T.A (Somos Todos Aliados) e o Z’África, na música 4 cavaleiros participa o Thaíde. Pô tem participação prá caramba, aí na música Cuidado tem a participação do Max (Academia Brasileira de Rimas), Kamau (Conseqüência e ABR) e do Suave (ex-Jigaboo). E o critério foi identificação independente do estilo, o pessoal pensa que por causa dessa parada do lado B a gente quer dividir mas não tem a nada a ver. A gente levou em conta as técnicas dos caras, o jeito de cantar e também as letras. Que nem o RZO quando a gente começou a colar nos ensaios a gente viu que os caras eram muito bons e tivemos que chamar por os caras são foda.

Assista um vídeo/montagem com a música “Enxame”

B.F: E no Rap quais os compositores que vocês admiram?

Bomba:
Mano Brown é sem palavras, não precisa nem falar. Hélio do RZO, Sabotage…

Fresh: Então nesse lance das letras entra de novo aquela história do lado B, mesmo a gente sabendo que tem vários caras que não fazem nosso estilo a gente acha da hora, por exemplo eu tô simpatizando mais com o Facção Central mesmo as letras dos caras sendo agressiva você ouve e aprende alguma coisa agora tem um monte de cara no Rap que rima e não passa nada na letra, então compositor bom tem o Brown, o Eduardo, o Hélião, o Black Alien, o Gog, o Bil.
Bomba: O Suave que é um puta letrista.

B.F: E Gabriel O Pensador o que vocês acham?

Bomba:
O Gabriel conseguiu tudo que ele tem através do Rap e hoje em dia ele não fala que é da cultura hip-hop.

B.F: Mas ele não foi injustiçado?

Fresh:
Eu acho que ele tomou a atitude errada, se ele tivesse atitude ele ia ficar tem vários brancos aí no Rap é só ter atitude. Ele escolheu ser um artista pop do Rap, se ele quisesse ser da rua ele ia ser porque ele rima prá caralho. Se ele tivesse do lado rua ele ia ser uma puta força pro Rap.

B.F: E o VMB vocês acharam justa a premiação?

Bomba:
Eu acho que o MV Bil mereceu ganhar porque aquele clip retrata um negócio que é muito foda e mais do que um clip musical é também um documentário. Os outros clips também tavam do caramba, todos de altíssima qualidade Rap tá começando a melhorar e você vê por isso aí, o crescimento todos os clips bem profissionais.

Assista ao vídeo da música “Furia de titãs”

B.F: E como está a divulgação do disco?

Bomba:
A gente tem um contrato com a Brava Gente, nossa gravadora mesmo é a Brava Gente a Trama distribui, e tá dando uma puta força sendo que ela nem precisava tá dando essa força ela tá pegando um grupo que ela distribui prá trabalhar. Por enquanto não tenho nada a reclamar.

B.F: Dos últimos lançamentos o que vocês gostaram?

Bomba:
Tem o Rappin Hood, o Klj na batida…
Fresh: Tem esses trampos que saiu álbum e tem uns grupos que tá tocando mas não saiu ainda, tem vários caras que vão ser revelação. O Jamal que fez participação com o Xis, o P.R.O que tá vindo aí, S.T.A, Záfrica Brasil que quando sair vai ser um arregaço e tem vários outros caras que estão prometendo.

B.F: O que vocês acham desses caras que copiam uma base gringa e falam que produziram o disco?

Bomba:
Isso aí retrata a falta de informação do pessoal daqui, você lança um disco inteiro com base gringa e nêgo não sabe que é base gringa e pensa que você produziu. E isso é falta de informação tanto dos produtores quanto do pessoal que ouve, gosta e compra o disco. O produtor também tem que ter originalidade, tem cara que você ouve o disco nêgo lá fora já usou tudo que ele usou.

Fresh: É legal ser criativo também, no nosso caso a gente usou música italiana, música árabe na música Legião estrangeira e tem que procurar coisa brasileira também os caras têm que abrasileirar o Rap, não precisa nem samplear chama alguém prá tocar os instrumentos. Muitos caras tem medo de fazer isso, eles preferem usar um James Brown que todo mundo vai gostar do que inovar.

Assista ao SP Funk no ‘Manos e Minas’

B.F: Quais os melhores produtores brasileiros?

SP Funk:
Tem o Zé Gonzales, o Nuts, o Luciano da Chic Show, Ganja Man que fez o Sabotage que tá saindo logo mais, o Rafa lá de Brasília tem muita gente boa aí. O Kamau que agora tá começando a produzir e tem mó talento, o pessoal do Ascendência mista, o Mzuri Sana e esses são os caras que estão antenado no que tá acontecendo lá fora.

B.F: Qual a opinião de vocês sobre televisão?

Bomba:
O pessoal do Rap tá muito contra a televisão e se a gente quiser dominar o Brasil mesmo que nem lá nos Estados Unidos só através da televisão mesmo. A gente não pode tá toda hora no Acre, no Amapá e os caras ficam com esse preconceito contra a TV e a gente vai continuar sendo marginalizado. Agora se a televisão começar a correr atrás da gente e não a gente correr atrás dela aí a gente vai dominar.

Fresh: E quando você fala TV os caras já pensam na globo e não é a só a rede globo, e a cara quando for é só cantar um som e sair fora mas sem fazer play back tem que cantar mesmo. E tem cara que não vai porque tem medo do que os outros vão achar, tem cara que fala que tem que ir só na MTV, só que a MTV não é canal aberto e não pega em qualquer lugar.

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B.F: Qual a música que vocês vão trabalhar?

Bomba:
É a “Viaje”.

B.F: Qual foi a maior influência prá vocês começarem a fazer Rap?

Fresh:
A minha foi quando eu ouvi a primeira vez o Run DMC, aí comecei ir pros bailes em 85, 86 no Asa de pinheiros, no Sandália e rolava vários sons nem falava Rap era balanço, rolava Kool Moe Dee, Beastie Boys e depois chegou a palavra Rap.

Bomba: Eu também foi a mesma coisa, o Run DMC disco Raising Hell. Quando meu irmão trouxe o disco prá dentro de casa eu era pivete e o bagulho mudou minha vida. Antes disso eu escutava Iron Maiden, Kiss aí depois do Run DMC só ouvi Rap e o que me fez começar a escrever foi o Public Enemy.

B.F: E você Fresh porque saiu do M.R.N?

Fresh:
Foi em 1995 por divergência de idéias, o Nil queria uma parada e eu outra. Ele queria dar o passo maior que a perna e não era a hora. E na época o M.R.N já era diferente, por causa das idéias do Nil que as letras dele eram uma história e isso é da hora e não tinha. Mas não rolou, a gente gravou duas coletâneas, um álbum solo e eu sai.
Bomba: E a gente já fazia umas paradas juntos, a gente não tinha DJ e o Fresh era DJ dos dois grupos inclusive eu participei do disco do M.R.N. Aí o Fresh começou a se identificar com a parada e eu chamei ele prá entrar definitivamente cantando.

Ouça o disco

 

1 comentário

  1. […] Não posso dizer que éramos amigos próximos, pois o que nos conectava era apenas a Cultura Hip Hop e o amor pela música Rap. Mesmo antes de conhecer e trocar ideia, a minha visão sobre ele era de um cara de vanguarda, aquele que estava sempre na frente. A primeira vez que vi ele nos toca-discos foi no Hip Hop DJ e já achava suas apresentações e rotinas diferenciadas, uma pena que em uma das edições, que eu até achava que ele ia ganhar, ele teve um problema técnico, tudo desandou e o DJ Cia foi campeão. Nos seus dois primeiros grupos de Rap ele entrou como substituto, no Vítima Fatal e no SP Funk. […]

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