DJ Erick Jay: as palavras do nosso campeão

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No Dia Internacional do DJ, o Bocada Forte manda uma entrevista exclusiva com um dos melhores DJs do Brasil. Com a palavra, ERICK JAY.

Bocada Forte: Sempre falamos da desvalorização da cultura DJ dentro do próprio hip hop. Você já viajou para o exterior em diferentes ocasiões. Acha que a cultura DJ é mais respeitada lá fora? Alguma coisa mudou em relação ao trabalho do DJ no Brasil?

Erick Jay: Então, lá no exterior é muito forte a nossa cultura DJ, a maioria dos grupos e algumas bandas de hip hop tem DJ, e eu acho que não é por moda, é por ser verdadeiro e valorizar um dos elementos mais fortes da cultura hip hop. Aqui no Brasil eu ainda acho que há 15 anos atrá era mais forte a questão do DJ de hip hop. Lógico que coisas foram mudadas, temos muito mais festas e tal, mas também temos muitos menos DJs nos grupos, nas oficinas, e menos interesse pela verdadeira arte dos toca-discos.

Bocada Forte: Você é um DJ que acompanha os principais avanços tecnológicos na discotecagem e no turntablism. Hoje, como um dos melhores DJs do país, tem condições de adquirir equipamento e software de ponta. Como é sua relação com a tecnologia? Acha que a tecnologia pode maquiar a falta de criatividade?

Erick Jay: Bom, a tecnologia tem seus dois lados também, o bom e o ruim. No início, quando lançaram esses produtos para DJ, eu era contra esses software (Serato, Traktor ,Timecode etc), mas depois eu fui vendo que estava sendo uma ignorância minha antes de conhecê-los. Aí vi que favorecia muito nos DJs, não iria deixar de ser raiz ou original por tocarmos com o Serato, entre outros. Muitos DJs que me inspiraram usavam muito bem software, por que não poderia ultilizar essa tecnologia maravilhosa? Mas também tem seu lado péssimo, todo mundo acha que é DJ por causa desses software.

Bocada Forte: Como se virava para tocar no passado? Quando conseguiu ter seu primeiro equipamento profissional?

Erick Jay: No começo dos anos 90, eu tocava com os toca-discos Garrard, que meu pai tinha. Depois, com a grana do Fundo de Garantia, que peguei onde trabalhava, comprei um par de CCE 6060, uma Gradiente DS20 e um mixer PMX 15A. Assim fui levando, tocando nas festa da minha área, pois toca-discos MK2 era um sonho, por ser muito caro na época. Em 1999, conheci o DJ Zulu, que já tinha MK2, então eu tive a oportunidade de começar a treinar com ele, porque queria participar do campeonato Hip Hop DJ, para ganhar as tão sonhadas Technics MK2, mas só ganhei após 6 anos, no mesmo campeonato.

Bocada forte: Acha que o acesso aos equipamentos e o progresso tecnológico ajudaram na formação de uma nova leva de DJs?

Erick Jay: Sim, ajudou muito, mesmo assim tem vários que não conseguem ser DJs de verdade, nem começando pelo básico: a mixagem.

Bocada Forte: Vejo muita monotonia nas apresentações de rap hoje em dia. Mesmo com tantos controladores, software etc, poucos grupos trazem “vibe” DJ+MC nos shows. Parece que quando eram apenas toca-discos, vinis e microfones, os grupos criavam mais, o DJ criava mais. O que acha da disso, o rap está matando o turntablism e a dinâmica dos shows?

Erick Jay: Hoje em dia vejo só apresentações de grupos de rap, tipo bem básico mesmo: solta o play, mão pra cima, eu sou o rap, isso, aquilo. Shows de rap de verdade DJ+MCS são poucos, sinto muita a falta disso, porque a escola de que venho era assim: DJ e MC juntos em uma parada só, o hip hop real. Nos grupos de antigamente a maioria do público do rap sabia quem era os DJs dos grupos. Hoje em dia só importa o MC para o público. Esse mesmo publico que curti  “rap” não está nem aí para o DJ, por isso que tanto faz soltar o play ou não. Isso faz perder o brilho, não tem criatividade, fica sempre a mesmice. Falo isso porque vejo muito .

Bocada Forte: Quais grupos e Djs representam bem o hip hop nos palcos?

Erick Jay: KL Jay, DJ Dan Dan, DJ Claytão, DJ Nyack, DJ Marcos, DJ Ajamu, Kamau, Gege, Dj Nato PK (PDD), Potencial 3, DJ Luciano, Sorry Drummer, Nelson Triunfo, Hocus Pocus, DJ Premier, Jay Dilla, KRS One, entre muitos ainda.

Bocada Forte: O que anda ouvindo ultimamente?

Erick Jay: R&K, Síntese, Rapadura, GeGe, Familia 4 vidas, Herança em Preto e Branco, Kuryña G-Funk, Coruja BC1, T.A.T.E, Poetas Modernos, Viela 17, Crônica Mendes, Tássia Reis, Rael, Criolo, Kendrick Lamar, The Underachievers, SchoolBoy-Q, Flying Lotus, Royce 59, J.Cole, Flatbush Zombies, entre outros.

Bocada Forte: Quais são os melhores DJs da área em que atua, o turntablism?

Erick Jay:
DJs RM, Nedu Lopes, Pow, Basim, Grelo, Abade, Nasgar, Nico, Bulldog, Tano, Fabinho BW, G2, Shinpa, Marques,Boca, Ronam Tarrega, Bydu,Nino(RJ),Alan(DF),Wallace,Sense(BH),Guirraiz(Paraiba),Gil Marques(MT).

Bocada Forte: Você também faz beats?

Erick Jay: 
Sim, tem umas coisas que faço logo mais lanço algo.

Bocada Forte: Sempre faço essa pergunta: no exterior, muitos DJs lançam discos com instrumentais, riscos, colagens e MCs convidados. Acha que uma cena que valoriza o beat , o DJ e os beatmakers pode crescer aqui?

 

Dj Erick Jay. Foto: Flávio Cabral.

Erick Jay: Sim, acredito que é uma das formas mais rápidas de um beatmaker e um DJ se destacarem, tem muitos caras bons aparecendo, principalmente os beatmakers. Os caras começam a produzir no quarto, depois tem uma oportunidade de um MC gravar no beat dele, aí a música estoura e o beatmaker consegue um nome que vai gerar muitos frutos para todos.

Bocada Forte: Como definiria o melhor beat para um DJ riscar?

Erick Jay: 
Rap anos 90, breakbeat, traps, e uns do produtor Le Jad, que já é especifico para isso.



Bocada Forte: O vinil continua vivo, mas continua intimidando muitos DJs que nasceram na era digital?

Erick Jay: 
Por que a essência do vinil é um pesadelo para alguns “DJs”. Com as tecnologias, o disco não pula, tudo fica mais fácil em vários sentidos. Se fosse vinil mesmo, os caras entrariam em pânico. Já vi muito. Fora que, com as tecnologia, qualquer um vira “DJ” na hora que quiser.

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