Entrevista com a artista plástica Ananda Nahu

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Retirada do nosso acervo, essa matéria foi feita por Rangell Santana e publicada em 10/07/2006

‘Black Magic’

Salvador hoje se encontra entre as cidades mais respeitadas pelos atuais escritores de rua no Brasil e no Mundo.

Agraciada pela diversidade e originalidade de estilos, como os traços vandais de Sidoka e da 071 Crew, a busca pela perfeição d´O Clan Crew, a psicodelia ácida da Turbilhão Urbano, a correria da Nova 10 Ordem, entre vários outros que fazem a terra de Bel Borba baixar a cabeça para os verdadeiros artistas das ruas. No meio desta cena, dois artistas vem se destacando por ter adotado o Stencil como base de seus trabalhos, são eles, Izolag e Ananda Nahu.

Numa noite descontraída no apartamento-galeria de Ananda, ao som de Fela Kuti e algumas sessions, começamos a conversar sobre pixação, estilos, história das antigas gangs e outras doideiras. Assim surgiu esta entrevista para que vocês conheçam um pouco do trabalho desta garota.

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Bocada-Forte: Quem é você?
Ananda: Sou um liquidificador.

‘Marielle’

B.F: Teria como definir seu trabalho?
Ananda: É difícil definir, pois creio que meus trabalhos estejam sempre em constante mutabilidade. Estou sempre à procura do aperfeiçoamento, procurando novas formas de expressão em cada proposta que me disponho a fazer. As linhas de trabalho são sempre efêmeras.

A obra de ontem possui aspectos já ultrapassados para obra de hoje e assim vai. Existem algumas coisas que gosto de trabalhar, mas cada vez que o faço, o aspecto sempre é diferente. Agrada-me trabalhar com imagens antigas, do inicio do século passado, fazendo uma releitura contemporânea.

B.F: E o trabalho de rua?
Ananda: Fazer da rua um suporte artístico é algo relativamente novo para mim. Estou criando intimidade com este meio, desenvolvendo-o agora com a manipulação do stencil, que essencialmente é uma técnica de linguagem urbana. Para mim é difícil encaixar aspectos que gosto de trabalhar com as necessidades urbanas de visibilidade e entendimento, tendo em vista melhor interação transeunte-obra. A rua proporciona tantas possibilidades que somente agora percebo sua capacidade e beleza.

B.F: Qual seria seu objetivo?
Ananda: Quero obter um vasto respaldo artístico, tanto teórico como prático, para que desta forma meus trabalhos possam atingir um nível de clareza, coerência, sensibilidade e beleza, satisfatórios para mim.

‘Elis’

B.F: quais seriam suas influências?
Ananda:
 Tenho a música como influência maior, tudo o que escuto reflete na obra. São duas partes aparentemente distintas, mas inseparáveis: fazem parte de um movimento só. Filmes e quadrinhos também são minhas influências. Em ambos, desde os mais antigos até os mais atuais, procuro imagens e aspectos a desenvolver. Sou influenciada inteiramente pelos pôsteres da belle epoque, no período da art noveau, e seus artistas, como Mucha, Beardsley, Jules Chéret e Steinlen, the The Beggarstaff brothers (os pais do stencil), entre outros. Dos artistas contemporâneos posso citar Lolaaddict (fotolog.com/lolaaddict), Bragga (fotolog.com/6ra99a), Fuckone crew (fotolog.com/locatellisteve), Highgraff (fotolog.com/highraff) e principalmente o trabalho do Iemza (www.wooperstudio.com). A arte oriental de Yoshitaka Amano e Kunizada e a limpidez de Stan Lee, em seus antigos quadrinhos, também são grandes referências para meus trabalhos.

B.F: Da pixação a galeria: o que diferencia em sua visão?
Ananda: Existe estética até mesmo na pixação, onde está associado o conceito de anarquia e revolta. É a influência da maioria dos artistas urbanos, pois a grande parte começa pixando. Não os diferencio e os considero parte de uma coisa só.

B.F: Armas ou flores?
Ananda:
 Flores são armas!

B.F: Quais trabalhos?
Ananda:
 Os do Izolag e da ZeroSeteUm.

B.F: E a música, o que você escuta?
Ananda:
 Desde os clássicos do blues e jazz, passando pela psicodelia dos anos 60 e 70, indo ao reggae e ao Dub, para a MPB, etc, etc, etc. Preciso de música para sobreviver.

B.F: O que as pessoas falam do seu tampo?Ananda: Tenho tido boas criticas em relação aos trabalhos.

B.F: Arte, Propaganda, dinheiro, mercado, tempo: como equilibra isto?
Ananda:
 Uma coisa depende da outra. Eu não equilibro (risos)!

B.F: O espaço é seu, fique vontade.
Ananda:
 Parafraseando Walter Franco, o artista tem uma necessidade de encontrar sua própria linguagem. Todos nós temos que fazer uma coisa única, que ninguém pode fazer pela gente.

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