Opinião: Afinal, brancos podem ser do hip hop? | Por Geysson Santos

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POR GEYSSON SANTOS

Nesses últimos dias uma discussão antiga do movimento foi reacendida a partir de algumas declarações polêmicas do rapper Raffa Moreira, que afirmou que o Haikaiss seria “uma porta pro fim dos negros no rap”.

Primeiro, acho importante pontuar que esta discussão não é nova. Nem teve início com o Gabriel o pensador, muito menos com o Eminem.

Esta discussão reaparece sempre que algum branco, ganha um destaque midiático. Não quero aqui, pagar de advogado do diabo, mas acho importante destacar alguns elementos para colaborar na discussão, e assim, trocar conhecimentos acerca da cultura hip-hop. Cultura essa, que apesar de ser tão habitada, ainda é pouco estudada.

A Rock Steady Crew no auge da carreira

Enganam-se aqueles que acreditam que o hip hop nasceu APENAS de mãos, pernas e intelecto negro. O fator racial nunca foi consenso na história do hip hop, o que uniu as pessoas naquele espaço de tempo para a construção do hip hop enquanto cultura foi na verdade, a classe social.

Rock Steady Crew, 1979.

Para além da série The Get Down, transmitida no Netflix, há um acervo histórico a ser explorado, nem sempre tão romântico quanto a série. A consolidação do hip hop não se deu apenas por ser negros, mas por serem jovens marginalizados no seu processo de construção de uma identidade própria dos subúrbios norte-americanos. Sacou?

 

Os irmãos grafiteiros OsGemeos, 1980, São Paulo.

Quem não lembra (ou conhece) os Beastie Boys? Talvez seja o maior exemplo da participação dos brancos no hip hop. Isso para não falar do breaking, onde, talvez, a maioria dos b-boys e b-girls eram brancos.

Talvez a crença de que o hip hop é uma cultura puramente negra, se dê pelo contexto em que ela nasceu no Brasil. Dentro das periferias, onde a maioria esmagadora é negra. Mas é importante também, entendermos que o hip hop não nasceu no Brasil. Fazemos parte uma cultura com representações mundialmente, a identidade formada historicamente no une. Mas até essa identidade, passa por constantes mudanças. Basta olharmos para o rap na década de 90 e o rap atual.

Fabel & Mr Freeze, 1983.

O avanço tecnológico tornou essa discussão como “novidade”, talvez por mais pessoas terem acesso aos meios de comunicação, então, devemos aproveitá-la para usar como um mecanismo de aprendizagem. Além de viver e sentir a cultura, temos que estuda-la. Afinal, “se a história é nossa, deixa que nóis escreve”.

Ah! Também acho importante ressaltar que vivemos no Brasil. O país onde ainda impera a democracia racial. Temos que tomar cuidado nessa discussão. Nós fomos criados para nem nos reconhecermos enquanto negro. Se a discussão de participação ou não do branco no hip hop for feita da maneira errada, transformaremos os brancos em nossos inimigos. Não foi isso que o hip hop nos ensinou, nosso inimigo é outro.

Parafraseando a Cecília Toledo: “A raça nos une, a classe nos divide”.

Assista ao videoclipe da música “Sure Shot”, com Beastie Boys:

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