Opinião: O fim da caverna | Por Shirley Casa Verde

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POR SHIRLEY CASA VERDE

Para as mulheres o casamento era praticamente um ato obrigatório há pouco tempo.

Numa época difícil e sem tantas oportunidades, poucas mulheres tinham qualquer profissão. Sobreviver era algo dificultado e o trabalho externo quase não existia. Para a maioria, o casamento era praticamente a única forma de sobrevivência. O amor não era o foco principal, e sim uma segurança financeira. Não por incapacidade, mas pela falta de oportunidades.

Tantas mulheres novas em idade juvenil eram obrigadas a se casar mesmo sem conhecer seu par. Prometidas aos seus futuros maridos acabavam muitos vezes inferiorizadas numa posição subalterna. Casavam-se por imposição de pais e mães que acreditavam estar oferecendo as filhas garantias de uma vida pouco problemática financeiramente. Diante desses maridos arranjados, as mulheres não tinham direito de se posicionar ou mesmo questionar qualquer situação dentro do lar. A voz feminina deveria ser apenas propagada depois da voz do patriarca. Por incrível que pareça ainda hoje podemos perceber situação parecida em pleno século XXI.

Em minha infância pude acompanhar e observar atos agressivos e machistas onde mulheres casadas eram prisioneiras do lar. Espancadas e violentadas pelos os seus MARIDOS não conseguiam reagir ou mesmo pedir ajuda. E quando conseguiam pedir socorro muitos se negavam a ajudar. Um ditado antigo imobilizava as pessoas: “Em vida de casal ninguém mete a colher.” Absurdo! Mas essa máxima ainda insiste em habitar nosso imaginário até os dias de hoje. O pior é que existem pessoas que realmente acreditam que mulheres são objetos. Uma espécie de troféu onde alguns homens são tratados como heróis depois de uma conquista. Acaba parecendo que homens são protetores de mulheres desamparadas e necessitadas de proteção.

Parece-me que herdamos os conselhos familiares e tomamos isso como verdade. Eu era criança, mais já não era tão inocente e percebia o que estava acontecendo e o poderia ser certo ou mesmo errado. Em meu quintal e através dos muros sempre escutei as conversas e os ‘buchichos’ sobre a vida dos casais da vizinhança. Era visível os problemas existentes entre eles e suas relações conjugais. Até mesmo na minha casa. E o bicho pegava.

Cresci ouvindo frases machistas e desrespeitosas na infância. Na real, ainda ouço nos dias de hoje coisas do tipo:

“Onde já se viu mulher no porta de bar”; “Lugar de mulheres e na cozinha”;
“Olha, cuida bem do seu marido.”

Ainda estamos em processo de transformação social, muita coisa foi conquistada pelas mulheres e ainda muita coisa deverá ser conquistada. Para finalizar posso dizer que em pleno século XXI ainda teremos muito trabalho pela frente.

Nunca mais aceitaremos a caverna de Platão!

*Nascida no bairro de
Casa Verde, na periferia
de São Paulo, Shirley
Casa Verde
 
é MC

integrante do grupo de
rap CA.GE.BÊ.

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