Memória BF | Entrevista com a Street Breakers Crew completa 12 anos

Entrevista publicada em 19 de julho de 2007

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Em homenagem aos 30 anos da Street Breakers Crew, que serão completados em outubro, resgatamos essa entrevista do nosso acervo. Ela foi publicada exatamente há 12 anos, no dia 19 de julho de 2007. Conseguimos recuperar a entrevista completa e ainda algumas fotos que foram publicadas na matéria original. Outras imagens são arquivos também do nosso acervo, que fazem referência a Crew e a grande parceria, respeito e admiração recíproca entre eles e o Bocada Forte.

Parabéns SB Crew! Estaremos sempre juntos em nome da Cultura Hip-Hop!


Em qualquer meio que você esteja envolvido, a sua história e a competência é o que conta para obter credibilidade e sucesso. No Hip-Hop são poucas as pessoas, grupos ou empresas que conseguiram manter durante 20 anos um trabalho de sucesso.

Entre os que estão a duas décadas desenvolvendo um trabalho de sucesso ligado à Cultura Hip-Hop, são poucos os nomes que podemos destacar. Claro que nenhum deles faz sucesso há 20 anos, mas foi quase a quantidade de tempo necessária para se estabelecerem e firmarem seus nomes, cada um no seu segmento.

Na Dança de Rua, mais especificamente no Breaking, o reconhecimento é mais difícil, pois a dança em geral encontra dificuldades. Mesmo assim a competência é notada, quebra barreiras e vai além das fronteiras tupiniquins. A Street Breakers – crew de dançarinos de São Paulo, que tem como integrantes mais antigos Bispo e Mr. Fê – é um exemplo de profissionalismo. Além de serem um sucesso com a Equipe de Dança, os dois também realizam eventos, já tiveram uma revista e para isso criaram a Spray Studio, empresa criada para canalizar o lado comercial da dupla.

Capa da Revista Bocada Forte Especial com a Street Breakers Crew

A Street Breakers ainda não chegou aos 20 anos, mas está quase lá, esse ano ela completa 18 anos, chega a maioridade com muita bagagem e experiência. Mesmo que Bispo e Mr. Fê sejam também os responsáveis pela Spray Studio, preferem deixar bem claro que a Crew é uma coisa e a empresa é outra. A Spray Studio é responsável pela produção das festas, eventos e produtos relacionados, por exemplo: Hip-Hop em Festa, C.In.B, Master Crews, Revista SB e por último a produção da eliminatória latina do Red Bull BC One 2007. Esse último talvez tenha sido o auge de todas as realizações, por ser um evento internacional, que reuniu 16 dos melhores dançarinos da América Latina.

O lado ruim de ambos fazerem parte da SB e da Spray Studio, é que a Crew não pode participar dos eventos produzidos por eles mesmos, uma pena, algo que eles mesmos lamentam. Mas a satisfação não deixa de ser menor por conta disso, afinal ser responsável por um dos eventos de dança mais importantes do país, o Master Crews, sendo referência pra outros países da América Latina, não é pra qualquer um. O sucesso do evento pode ser conferido no DVD triplo que eles acabaram de lançar.

Com um projeto gráfico jamais visto no Hip-Hop, o DVD traz na íntegra a Batalha de 2006 vencida pela DF Zulu Breakers de Brasília. Na entrevista abaixo eles falam sobre a história da Crew, que se confunde com a história do Hip-Hop brasileiro no início dos anos 90, conquistas e ainda sobre a Spray Studio e todos os projetos realizados.

Bocada Forte: Pra começar, gostaria que cada um fizesse um resumo do primeiro contato com a Cultura Hip-Hop, até a formação da Street Breakers em 89, a Revista SB, C.In.B (98) e Master Crews.

Bispo e Mr. Fê

Bispo: A minha história começa através de meus irmãos que dançavam Original Funk e também ouviam muito Soul. Foi através deles que aprendi os primeiros passos da dança Funk e ouvi muito o brasileiro Gerson King Combo, além de James Brown e Earth Wind & Fire. Depois aprendi alguns passos de Slide (deslizar), como o Back Slide. Até aí ainda não era a Cultura Hip-Hop, mas já dá pra notar a relação da música e da dança, acho que tinha uns 10 ou 11 anos na época. Fui vendo videoclipes como “Buffalo Gals” do Malcom McLaren e comecei a me interessar pelos passos diferentes, estava na verdade colecionando passos sem pensar no que estava fazendo, pois a princípio parecia uma continuação do que aprendi mais novo. Em 1987 foi a data em que através de meus contatos com B.boys em bailes comecei a praticar o Breaking inteiro e entender o que era Hip-Hop. Na escola em que estudava em 1989 conheci o Ricardo Marcelino (B.boy Fukão), éramos da mesma sala e começamos a andar juntos, pois entre outras coisas só nós dois dançávamos Breaking lá. Já era raro encontrar B.boys, pois não era mais moda como foi em 1984 (filme Beat Street). Pouco tempo depois ele me convidou para fazer parte da crew que eles estavam montando na Vila Carrão, naquela época a motivação foi uma crew tradicional chamada Crazy Crew, que treinava na entrada de um banco na Avenida Conselheiro Carrão. Nós mesmos fizemos de lá nosso ponto de encontro por 10 anos.

Sutra e Mr. Fê

Mr. Fê: A Revista SB (1996) foi nossa primeira realização para a Cultura Hip-Hop, recém mudado para Maringá-PR, com a família, estava muito nervoso por não ter mais informações relacionadas à cultura Hip-Hop, que mesmo em Sampa era muito escasso. Um belo dia minha irmã, B.girl A-ní, havia comentado sobre a vontade de fazer um fanzine, passou alguns meses e mandei uma carta ao Bispo falando do nosso interesse de criar um fanzine para nossa cultura, que tivesse a ênfase em Breaking e as danças da nossa cultura, mas não queria que fosse um fanzine normal diagramado com colagens e folhas datilografadas, geralmente todo preto e branco. Ai disse ao Bispo “por que não investimos uma grana mínima e tiramos uma fotocópia laser PB e a capa colorida” o Bispo ficou louco e preparou uma matéria e entrevistas bem legais como o da Guettoriginal (Ken Swift, Orko, Wiggles, Adesola, Rooney Rockwell, entre outros aqui no Brasil). Na época eu trabalhava em uma estamparia, que me cedeu alguns retalhos de adesivos e pagamos para silkar  “Revista SB”! A partir daí só foi história e crescimento. Bispo vendeu os 30 exemplares, ou seja, toda a primeira tiragem em apenas 1 dia lá na estação São Bento e galeria. Passou alguns anos, fizemos 10 edições e terminamos suas atividades vendendo 8000 exemplares da última edição.

Mr. Fê e Bispo: Em 1997 montamos nossa primeira festa de Breaking. A idéia era fazer o lançamento para a Revista SB. Nós nos inspiramos nas festas que o Marcelinho, O Alan Beat e o Banks haviam feito no mesmo ano. Como eles pararam com as festas resolvemos manter viva a idéia. Fizemos o primeiro flyer colorido, feito até então inédito dentro da Cultura Hip-Hop tradicional. Tiramos dinheiro do bolso, pois achávamos que B.boys também mereciam qualidade, escolhemos um salão bem estruturado e aconchegante no centro chamado American Graffiti. Fizemos uma batalha anunciada como atração principal: Street Breakers X Super Sonic B.boys (São José do Rio Preto) e todos que entrassem receberiam uma Revista SB. Mas mesmo assim não esperávamos muita gente, era uma decisão nossa fazer algo bonito para que quem dançasse se sentisse respeitado. De boca em boca o evento encheu vindo gente até de outros estados, lembro da emoção, parecia um sonho ver tantos B.boys juntos num evento nosso.

VHS do CINB, acervo Bocada Forte

Em 1998 começou o CInB (Campeonato Individual Brasileiro de Breaking) fizemos eliminatórias em vários estados brasileiros sempre com a final em São Paulo. O auge do CInB foi em 2001 quando reunimos no SESC Itaquera cerca de 3.000 pessoas num evento de Cultura Hip-Hop, com MCs rimando, Graffitis sendo feitos na hora em espaço separado, Workshops, Banda de Funk, DJs e lógico a competição de Breaking. No ano seguinte interrompemos o projeto por seu alto custo, mas já temos intenções de retomá-lo em breve e com uma versão da Revista SB em vídeo (Revista SB Vídeo Magazine).

O Master Crews surgiu em 2002 de uma vontade de fazer festas para as Crews do Brasil poderem se encontrar, dançar e trocar experiências. Em parceria com o Babu (Augusto Takeda) locamos um salão no bairro da Liberdade de fazer inveja pela qualidade: piso bom, palco, camarim, banheiros, estrutura em geral. A ideia era simples: com um lugar tão agradável e todos sendo bem tratados, teríamos um lugar (um evento) onde poderíamos trazer a família, amigos e até pessoas de outras culturas. O evento andou sozinho e a cada ano ele cresce mais em público e nos esforçamos para que cresça também em qualidade, já é o maior evento de Crews da América Latina e reconhecido em outros países pela qualidade, tanto dos dançarinos quanto do evento.

BF: Falando um pouco dos trabalhos que já desenvolveram e também nos que ainda desenvolvem, porque o C.In.B não acontece mais?

SBC: Tivemos naqueles anos (2001 a 2003) um parceiro que era o SESC, que após o grandioso sucesso do CINB (media de 3.000 pessoas) não acompanhou o crescimento do evento com relação a investimentos, pois não queríamos manter o evento no mesmo padrão. Ainda não tínhamos palestrantes estrangeiros, cachês mais justos, exposições de Graffiti, entre outros planos que queríamos transformar no CINB. Congelamos a ideia, mas com certeza em 2008 retomaremos negociações. Aguardem CInB em 2008.

BF: Vocês também faziam um evento chamado Hip-Hop em Festa e a Revista SB. Os eventos de dança vocês continuam fazendo, mas com outro nome e a Revista, o que aconteceu?

Revista SB Nº 08 – Acervo Bocada Forte

SBC: Esse evento acompanhou os lançamentos da revista SB em vários estados brasileiros durante anos. Quanto à Revista SB, como todos sabem foi a primeira publicação para a Cultura Hip-Hop Original e consequentemente não tinha nenhum apoio financeiro substancial, somente pagava a publicação da revista juntamente com as vendas. Mas mídia impressa no Brasil custa muito caro e como foi nosso primeiro projeto para com a Cultura Hip-Hop, não sabíamos até onde a revista iria chegar depois. Começou como um simples Fanzine e terminou em uma tiragem de 8000 unidades. Quando paramos para analisar, percebemos que a revista consumia grande parte de nossas vidas e não nos trazia um subsídio mínimo para vivermos daquilo. Era realmente a vontade de passar a informação adiante que nos manteve anos fazendo ela e naquela época havia um grande buraco na informação dentro do meio Hip-Hop nacional, não sabíamos o que acontecia nem no estado vizinho muito menos no mundo. Nunca tivemos prejuízo, mas vivíamos para fazer a revista, sempre tirando fotos, fazendo entrevistas, preparando matérias, diagramando, e fazendo contatos nacionais e internacionais, pois fazer de qualquer jeito é fácil, mas do jeito que queríamos o material, era realmente desgastante. Foi ótimo fazer a SB, fizemos muitos amigos tanto no Brasil quanto fora. Outro projeto futuro é o lançamento em vídeo da Revista SB (SB Vídeo Magazine), mas não colocamos prazo ainda, pois é um projeto de muita responsabilidade.

BF: Quantos e quais são os integrantes da SB atualmente?

SBC: Atualmente somos em 5, quem nos conhece sabe o quanto é difícil fazer parte da SB, por isso temos o menor índice de membros que saem da Crew. Geralmente quando se sai da SB é porque não se quer mais conviver com a Cultura Hip- Hop, pois alguém que entra na SB não é somente pela dança ou algo relacionado ao Hip-Hip, o principal é ter gosto e amor pela Crew transformada em família com o tempo. Claro que somos unidos pelo gosto em comum e o amor pela cultura a qual fazemos parte, mas quando alguém pretende entrar na SB ou a SB pretende convidar alguém (coisa rara de acontecer, mas enfim), colocamos na balança muitas coisas, comportamentos, conduta, amizade, responsabilidade, vai muito além da dança, ai então, somente quando todos os membros concordam com a entrada de um novo alguém é que este é convidado. Esse processo pode levar alguns anos. Os membros são:

Street Breakers Crew

Bispo SBo único ainda da primeira formação em 89. Dança Popping, Loking e Breaking, além de ser um excelente professor;
Mr-Fecomeçou a dançar em 91 juntamente com a SB, que seria em 93 sua crew, fazendo parte da segunda geração da Crew. Dança Breaking e UP-Rocking;
B.Girl A-níessa começou cedo, com apenas 7 anos, em 92,  Mr-fe (seu irmão) a levava no local de treino oficial da SB. Conviveu com a crew até ser convidada a fazer parte por volta de 1996. Dança Breaking e Locking quando dá, Up-Rocking;
Sutra StyleEx-aluno do Bispo em uma ONG, Sutra fez por merecer sua entrada na SB em 2002. Dança Breaking;
PuberComeçou a dançar em 22 de setembro de 1999, às 19:30h, no salão paroquial de uma igreja e durante anos acompanhou seu tio Gueto Style (Old School), que ia dançar nas festas que a Spray Studio fazia, vindo de São José dos Campos, o mais novo membro da Crew faz por merecer vestir a camisa da SB.

Assista a SB Crew na Eurobattle 2011 vs Diamond Leafs (Bélgica)

BF: Todos na Crew são apenas B.boys ou dançam outros estilos?

SBC: Como já citado, dançamos também Popping, Locking e Rocking/Up Rock, além do Bispo mandar bem num sambinha (risos). Estudamos outras danças como Afro, Salsa ou artes marciais, yoga, Kung-Fu, Capoeira, umas mais profundamente que outras para podermos expandir nossa mente e nossos movimentos, além de cuidar bem do próprio corpo, pois tivemos de criar exercícios específicos para nossa dança. A própria criação das danças ligadas à Cultura Hip-Hop passou por este processo de interação.

BF: Nesses 19 anos, muita gente deve ter passado pela Crew de vocês, mas e vocês já fizeram parte de outras crews?

B-Boy Sutra

SBC: A maioria dos membros que passaram pela SB sempre fizeram parte de uma única Crew: a SB! Bispo, A-ní e Mr-Fe nasceram, criaram-se e educaram-se somente com a SB, Sutra já foi da Instinct Force Crew (grupo que fundou com outros alunos de oficinas do Bispo) e Puber da Foot Work Frenetics e Aliados Force Crew juntamente com seu tio.

BF: A SB tem algum DJ, Grafiteiro ou MC?

SBC: Falar sobre o que fizemos e faremos é meio complexo. Somos uma Crew que apesar de muito amigos, gostamos de sempre nos desafiar e nós mesmos realizarmos tudo, Mr-Fe e Sutra fazem Graffitis apesar de ser somente por diversão sem um compromisso de tantos por mês. Já fez parte de nossa Crew MC, DJs, Grafiteiros, mas o sentimento Hip-Hop é mais forte, todo B.boy quer fazer um Graffiti ou escrever uma letra ou poesia. Quanto a DJ, realmente todo B.boy que ama música tem o feeling pra ser um DJ de Breaking ou produtor, meio que nasce na alma do cara tudo isso. Ainda há muita coisa pela frente, quem sabe quando a saúde e a idade não permitir que alguns de nós dancemos mais, iremos realizar com mais intensidade outros elementos de nossa cultura. Como curiosidade, a produção musical de nosso show é do Mr-Fe, assim como ele é o MC (apresentador) oficial do Master. A SB carrega aquele espírito do início do Hip-Hop nacional quando para qualquer coisa que quiséssemos, tínhamos de fazer nós mesmos como a roupa, as estampas, os mixtapes e as primeiras festas. Até hoje, apesar da facilidade maior, determinadas coisas só quem é do Hip-Hop é que vai se preocupar em fazer mesmo.

Bocada Forte: Como surgiu o contato pra que vocês produzissem a eliminatória latina do Red Bull BC One?

Flyer Red Bull BC One de 2007 – Acervo Bocada Forte

SBC: Difícil falar o que motivou a Red Bull a nos convidar (Spray Studio Produções)  para produzir o Red Bull BC One 2007 América Latina, mas creio que seja nosso histórico positivo e crescente em realizações na Cultura Hip-Hop e culturas urbanas em geral. Na final mundial que aconteceu em 2006, a Red Bull ainda desconhecia nosso trabalho, em dezembro de 2006 assistiram o Master Crews e em março de 2007 entraram em contato conosco pra realizar a eliminatória nesse novo formato mundial do BC One, o que só foi fechado em abril.

BF: Vocês foram os responsáveis pela escolha dos jurados? Quais critérios foram usados?

SBC: Fomos responsáveis pela escolha dos jurados, mas sempre em consenso com o departamento de cultura da Red Bull, houve um bate-bola com eles na escolha de pessoas para compor a equipe de artistas do evento. No BC One a pessoa responsável pelo molde do evento a nível mundial é o Thomas (idealizador também do Batlle of the Year) e tudo passa por ele através da Red Bull, não tivemos um contato direto. No caso dos jurados escolhemos pessoas com excelente currículo, conhecimento técnico da dança Breaking e histórico de realizações dentro do cenário desta dança e da Cultura Hip-Hop.

BF: O que acharam dos representantes brasileiros, era o que esperavam?

Daniel Q.D.M (esquerda da foto) e Pelézinho (a direita). Campeão e vice-campeão da Eliminatória Brasileira do Red Bull BC One 2007. Foto: Rogério Fernandes (Acervo BF)

SBC: Pensamos que a dança Breaking em nosso país está num crescimento intenso e constante, todos os B.boys nacionais tinham muito o que mostrar e mostraram, basta ver as eliminatórias de outras regiões do mundo. Era o que esperávamos sim, mas acho que podemos obter mais de nossos B.boys/B.girls. Na verdade para cada pessoa que perguntar conseguirá obter nomes completamente diferentes e de igual qualidade, o motivo para isso é que existem excelentes dançarinos com ou sem fama pelo Brasil. Sabemos disso pela pesquisa que fizemos junto a expoentes e conhecedores da dança Breaking pelo Brasil. Somente 11 pessoas para representar a nossa dança aqui é muito pouco, há Crews inteiras dançando muito bem, pessoas desconhecidas destruindo por ai! Não foi possível fazer uma eliminatória brasileira antes, mas acredito que muitas possibilidades de participação foram abertas e muitas possibilidades virão no futuro. Acreditamos que aquele que se dedicar sem esmorecer, cedo ou tarde alcançará seus objetivos.

BF: Vocês já conheciam os representantes estrangeiros, algum deles surpreendeu?

SBC: Sim já conhecíamos todos eles, alguns pessoalmente e outros por vídeos, mas com relação à escolha dos estrangeiros não cuidamos dessa parte, o responsável pela escolhas deles foi o Thomas, gerente mundial do BC One. Com certeza tivemos dois destaques entre os estrangeiros, um foi o El Gato (Acme Crew – México) e outro foi Enano (Speedy Angels – Venezuela).

BF: O que tiraram de lição trabalhando em um evento desse porte?

Mr. Fê como MC no BC One 2007. Foto: Rogério Fernandes (Acervo BF)

SBC: Foi a primeira vez que trabalhamos com um evento internacional. Era um grande desafio, mas não nos preocupávamos pela quantidade de público no evento (1.500 pessoas) e sim com o cerimonial dos competidores/jurados internacionais e de outros estados, além de jurados nacionais e equipe. Coordenar esse monte de gente não foi fácil, mas felizmente não tivemos surpresas, estudamos bastante antes para que não houvesse falhas.

BF: Fazendo um balanço final, o que acharam do evento e o que já sentiram de retorno, do público, da mídia e patrocinadores?

SBC: O nome RedBull acaba por gerar mídia espontânea e o departamento de comunicação da RedBull deu uma força, apesar de não ter muita experiência em termos de Cultura Hip-Hop, especificamente. A cobertura do evento foi interessante, entre filmagem, fotógrafos, revistas, sites, TVs e etc. O feedback dentro da Cultura Hip-Hop, especificamente entre os dançarinos de Breaking, foi bem positivo, como dissemos, não houve erros significativos e por isso o retorno acaba sendo interessante. Para nós, era importante que o evento tivesse sucesso, afinal, tínhamos o nome da Spray Studio associado a ele e medindo a relação com o esforço e desempenho, toda essa movimentação pós-evento era esperada.

BF: Vocês acabaram de lançar um DVD triplo do Master Crews 2006, falem sobre esse lançamento.

DVD triplo Master Crews

SBC: O DVD triplo do Master foi uma realização que realmente marcou história tanto para a cultura Hip-Hop nacional quanto na internacional. Projetamos um Box especial jamais produzido no meio do B.boy mundial, gravamos também em 24 frames trazendo um aspecto de película (filme), reunimos uma equipe de profissionais e equipamentos utilizados em cinema e TV. Mas tudo isso não teria sentido se no ano de 2006 o Master Crews não tivesse reunido batalhas e Crews que colocariam medo em qualquer Crew internacional. O DVD do Master é importante porque tem uma alma boa, precisávamos somente apresentar isso com mais profissionalismo, o que até então era bem raro no meio do Hip-Hop original. Além disso, estamos enviando DVDs do Master para várias partes do mundo como E.U.A, Europa, Japão, alguns países da américa latina e Brasil, fazendo com que o mundo veja que há mais Crews de potencial nascendo a cada momento, além das já conhecidas e que o Brasil ainda tem muito o que mostrar nas competições e rodas do mundo todo.

BF: Alguma novidade para o Master Crews 2007?

SBC:Com certeza, temos muitos planos para o Master esse ano, faremos um grande esforço para que boa parte deles se realizem, mas a princípio, o que posso adiantar é que teremos um grande e inovador site com notícias periódicas de tudo que se relaciona ao Master no Ano, também iremos disponibilizar um espaço maior devido ao grande público que não conseguiu entrar ano passado alem de alteração de algumas regras e… Aguardem em agosto novo site www.mastercrews.com.br com novidades! É sempre bom lembrar, preferimos prometer menos e surpreender mais. Nós nos orgulhamos de que até hoje conseguimos cumprir tudo o que prometemos em relação ao evento.

BF: Ano que vem a Crew de vocês completa 18 anos, podemos aguardar uma comemoração especial?

SBC: Um monte de anos né?! Nós costumamos dizer não somos uma Crew Old school e sim Actual School. Estamos competindo, realizando, treinando, festando, pintando. Temos o mesmo sentimento e a energia de uma Crew que acabou de se formar, mas com a experiência de muitos anos. Quanto a uma festa em especial… quem sabe?!

BF: Quais os campeonatos e/ou batalhas ganhos pela Crew ou por algum integrante?

Puber batalhando com Beiço no BC One 2007. Foto: Rogério Fernandes (Acervo BF)

SBC: Começamos a participar mais das competições a partir do momento em que paramos com a revista SB. A competição da qual gostaríamos de participar é o Master Crews e a exemplo do CINB nunca vamos poder por sermos os organizadores. Pode parecer estranho, mas os títulos de competições não nos trazem tanta importância assim. É gostoso ganhar, mas arte é subjetiva. Participamos e realizamos competições por um único motivo: confraternização. Não a título ou premiação no mundo que lhe traga a sensação de acertar um movimento que você treinou no meio de uma batalha e as pessoas sentirem a sua alegria. É simplesmente incrível, para gente pouco importa se iremos passar daquela batalha, mas gostamos de ser lembrados com a batalha de mais energia da competição, sua fama é feita porque você cria, inova, faz o seu estilo, desafia, diverte as pessoas e isso sim é algo que o titulo não lhe traz. Mas respeitamos e incentivamos as competições desde que tenham respeito com o competidor oferecendo um mínimo de estrutura para se dançar.  Entre os últimos títulos e eventos importantes que participamos nesses anos foram:

– 1º lugar no campeonato individual em São José dos Campos 2007;
– Prêmio melhor B.boy do evento nacional de duplas King of Circle 2007;
– 1º lugar no campeonato nacional de Crews) Arena Underground 2007;
– 1º lugar no campeonato B.Boy Stance 2007 edição especial;
– 1º lugar no campeonato de Crews B.Boy Stance 2006;
– 3º lugar no campeonato 3X3 2005 em Brasília – DF;
– 2º lugar no campeonato 3X3 2005 em Brasília – DF;
– 2º lugar no campeonato de Trios Ultimate Battle 05;
– 2° lugar Batalha de B.boys 2X2 Passo de Arte Hip-Hop Competition 2004;
– 1° lugar Batalha de B.boys 2X2 Passo de Arte Hip-Hop Competition 2003;
– Primeiro colocado no campeonato de trios de São José dos Campos, em 2003;
– Prêmio Agosto Negro 2003, personalidade do ano – categoria Breaking;
– A-Ni foi campeã do primeiro individual de B.girls King Of the Circle;
– Segundo colocado no campeonato nacional de duplas King of Circle 2002;
– Participação na primeira Batalha Final -1999;
– Prêmio Melhor Equipe de Breaking do ano de 1998;
– Jurado no Sudaka 2001 (Chile).

Siga o BF no Insta – www.instagram.com/bocadafortebf

BF: É possível viver da Dança de Rua no Brasil, sem perder a essência, como?

SBC: Viver de dança de rua no Brasil é possível sim, mas é necessária uma articulação enorme. Pois os exemplos que temos são poucos e são de profissionais que vendem seus shows, dão aulas, fazem palestras e realizam produções do gênero. Ou seja, vivem de dança, mas fazendo várias áreas dentro da dança. Dentro da SB quem “vive” de dança é o Bispo, sempre com muitos contatos e oferecendo seu trabalho a secretarias e instituições. Fora temos o Frank Ejara, Discípulos do Ritmo, Back Spin, entre outros. Com relação à essência podemos notar que quem vem por modismo ou ganância não dura muito tempo, logo corre para outras “tendências”, não condenamos, mas alguém tem que ficar para manter vivo o Original. Frase do Bispo: “-Prefiro ser alguém no Hip-Hop, que é minha ideologia, do que ser mais um em qualquer modismo por aí. Quem quer agradar a todos desagrada a si mesmo”.

Assista ao resumo do Master Crews 2004

BF: Quais os planos da Street Breakers para 2007?

SBC: Para 2007, que o Mr-Fe seja bem sucedido em sua operação das hérnias cervicais de disco, que o Puber se consolide como um grande professor de Breaking, que o Sutra alcance crescimento profissional na área de CG, que A-Ní termine seus estudos e se programe para vir morar em SP, enfim saúde, sucesso profissional e emocional, união cada vez maior da crew. Outras coisas virão naturalmente como shows e produções. Lembrando, é lógico que Spray Studio é uma coisa e SB é outra apesar de Mr-Fe e Bispo SB fazerem parte de ambas. Existem muitos projetos para acontecer idealizado pelos outros integrantes no futuro, sempre com a colaboração de todos.

BF: Espaço aberto para contatos, agradecimentos e considerações finais.

Capa da Edição 09 da Revista SB – Acervo BF

SBC: Tenha orgulho de sua Crew e faça ela crescer. Quem é “menos” hoje, com treino, trabalho e dedicação se torna “mais”. Um dia fomos um grão de areia comparado às outras crews, estamos evoluindo desde então, quem pula de galho em galho um dia não terá nenhuma árvore para voltar. Uma crew é uma família e o ponto de união da Cultura Hip-Hop, onde seus integrantes se ajudam e crescem juntos. Melhor é aquele que continua, não pára e é fiel a seus ideais, é fácil falar e dar discurso, quero ver botar em prática. Especificamente na dança: não copiem, criem. Sabemos que criar é difícil, por isso mesmo os melhores são os que criam. Não busque necessariamente o mais difícil e sim o mais surpreendente, não percamos tempo criticando o que é ruim, é bem melhor enaltecer o que é bom. Batemos palmas para quem é bom, mesmo em rachas, mesmo se não nos damos bem, sejamos honestos com nossa dança e nossa cultura. Acreditamos que quem insiste no que é certo um dia colhe frutos. Hip-Hop não é partido político, mas é nossa política sermos positivos. Para finalizar acreditamos na educação pelo exemplo, que se é pra mudar, mudemos a nós mesmos primeiro e depois quem está ao lado, se todos fizerem isso já será uma grande mudança.
Cultura Hip-Hop, Luz a todos!

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Assista ao Master Crews 2002

 

 

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